Músicas

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História da música popular angolana na universidade

novembro 19, 2019

/ Por João André Sumbo
A investigação no domínio dos Estudos Culturais Universitários está em condições de incluir no seu conteúdo a história sistematizada e rigorosamente datada de todo o processo de evolução da história da Música Popular Angolana, primórdios da sua formação, desenvolvimento, consolidação da discografia e respectiva periodização.



Sabe-se que a afluência dos cantores, compositores e instrumentistas às zonas urbanas e a absorção da tecnologia musical ocidental, influenciaram a sonoridade e estrutura da Música Popular Angolana. Formações musicais que no início da sua formação usavam a viola acústica, dikanza (reco-reco), caixa (percussão) e o chocalho começaram a introduzir, paulatinamente, instrumentos eléctricos ou electrificados.
Os estudos sobre a história da Música Popular Angola, que inclui análises comparativas entre a tradição e modernidade, passam pelo registo dos primeiros agrupamentos musicais, ou seja, a passagem da fase acústica à electrificação, processo que poderá contribuir para o surgimento de várias propostas de periodização da Música Popular Angolana, evidenciando a música dos anos quarenta, com o Ngola Ritmos, processo de consolidação do semba, com os Kiezos, até à eclosão da nova geração.
Neste processo, a compilação de documentos dispersos para orientação epistemológica da geração mais jovem de estudiosos, pode incluir a biografia dos cantores e compositores, as suas aprendizagens e influências adquiridas. A intenção é estruturar conhecimentos para melhorar a qualidade do ensino da Música Popular Angolana, de nível médio e superior, e motivar o surgimento de teses de pós-graduação, facto que poderá estimular as instituições universitárias a multiplicar e fazer circular diferentes publicações sobre o tema, em todas as bibliotecas do País.
Encontro
O debate e análise do estado actual da Música Popular Angolana,deve identificar, através da realização de um encontro alargado, os factores que inibem o seu desenvolvimento no domínio da criação, investigação, produção, edição, distribuição fonográfica, internacionalização, realização de concertos e festivais, com o objectivo de reforçar o intercâmbio cultural e comercial entre editores, produtores e distribuidores da discografia nacional e conhecer o estado da divulgação da Música Popular Angolanana comunicação social e no mundo.

Tradição
Há um segmento musical configurado no espaço rural, que designamos, Música Tradicional, ritualizado por diversas práticas e costumes, que se dimensiona num quadro cultural e antropológico, específico. A música no campo possui, normalmente, uma função social. Parafraseando, Adriano Duarte Rodrigues, “Pelo facto de a modernidade se definircomo ruptura, a tradição representa a únicafonte possível de sentido”.
Línguas
Pela sua dimensão identitária, o Estado deve estimular o uso das línguas nacionais nas composições da Música Popular Angolana, a reutilização da poesia angolana nos textos musicais e valorizar os grupos tradicionais, muitos deles em plena função nas cidades. Torna-se imperioso estimular os meios académicos a encararem de frente o importante desafio de aperfeiçoar a expressão oral e escrita em línguas nacionais, o estudo da cultura e costumes das comunidades, e sua expressividade na Música Popular Angolana.

class="bold">Musseques
Com a expansão da colonização portuguesa, Portugal começou a estender a sua presença do litoral em direcção ao Sul no Século XVII, as cidades foram crescendo e surgiram, na periferia, grandes aglomerados populacionais, pré-urbanos, designados musseques. O musseque, do kimbundo, mu (onde) +seque (areia), traduzindo, onde há areia, por oposição à zona asfaltada, era considerado o espaço de transição entre o universo rural e a cidade, que se transformou no principal laboratório textual das canções, absorvidas pelas expectativas do ambiente cultural urbano.

Modernidade
Fenómeno interessante ocorreu com o surgimento do conjunto, África Show, a primeira formação musical angolana que introduziu, com sucesso, o órgão, traduzindo uma postura estética distintiva e mais enquadrada às exigências de um público heterogéneo que seguia, em Angola, os grandes sucessos musicais do Brasil, Europa e Estados Unidos da América.Antes do África Show, os chamados "Conjuntos de Música Moderna" já tinham ultrapassado a era acústica. Grupos como os “Indómitos”, “The Five Kings” e “Os Jovens” do Mário Rui Silva embora fizessem algumas incursões na música angolana tinham o rock, como género preferencial.
Temas
Os temas das canções do corpus mais representativo da Música Popular Angolana que vem resistindo ao tempo, evocam situações cuja génese textual e formato espacial se projectam, maioritariamente, nos musseques, o filho desaparecido no mar, a garota de mini-saia, o assédio sexual entre o patrão e a empregada doméstica ( é clássico o verso da canção “MadyaKandimba”, “sinholauakuatapichitola”, a senhora pegou na pistola, os conflitos conjugais, a infidelidade amorosa, a condição da lavadeira, o feitiço e o enfeitiçado, o lamento do amigo ou parente próximo desaparecido, a exemplo da canção “Lamento do Visconde”, do cantor e compositor, Óscar Neves, o carnaval, a nostalgia da infância (consubstanciada na frustração do compositor não ter ido à escola) e a concretização da praga anunciada , são alguns dos temas mais recorrentes, registados nos textos das canções da Música Popular Angolana.
Fontes
Para além das personalidades vivas que estiveram expostas à ocorrência dos fenómenos da história e participaram nos principais momentos de desenvolvimento da Música Popular Angolana, os arquivos nacionais e estrangeiros, publicações da época com destaque para jornais e revistas, “Notícia” e “Noite e dia”, e a documentação de conferências e encontros, poderão constituir fontes poderosas para reconstituição histórica da Música Popular Angolana. Ainda sobre as fontes, destacamos os estudos do jornalista Sebastião Coelho, pioneiro da historiografia da Música Popular Angolana e figura emblemática da difusão radiofónica e damoderna produção discográfica angolana, que deixou estudos sobre política, línguas nacionais, imprensa, artes plásticas e história da Música Popular Angolana, tendo sido um dos fundadores da Companhia de Discos de Angola (CDA).

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