Yanick Moreira fala do vídeo da discórdia
Que avaliação faz do nível competitivo e organizativo do basquetebol angolano?
Não sei quase nada sobre a organização, mas posso dizer que estamos a perder um pouco de competitividade do basquetebol, talvez, por causa do número de equipas reduzidas no campeonato ano após ano. Podemos fazer melhor. O nível de competitividade pode aumentar se trabalharmos arduamente. É necessário que haja mais equipas e projectos a longo prazo para que as pessoas possam desenvolver-se. Temos muitos atletas a desistir de jogar basquetebol por falta de equipas. Isso é desmotivador. Os atletas deixam de jogar muito cedo.
Comparativamente aos anos anteriores, está a dizer que os níveis competitivos baixaram? Acredito que sim. O número reduzido de equipas fala por si; não é preciso ser eu a fazer esta avaliação. É só olhar para o número de equipas na competição: baixou muito. Já tivemos campeonatos com doze equipas. Hoje, temos apenas oito e com o risco de sair mais equipas. Assim fica difícil, porque não estamos a produzir o mesmo número de atletas como nos anos anteriores. Espero que isso seja uma fase e que passe o mais rápido possível. Para isso, é preciso continuar a trabalhar. Nós, os mais velhos, temos de ajudar os mais novos.
O que está na base da situação vigente? Regista-se a incapacidade dos treinadores em elevar as competências técnicas e físicas dos talentos?O problema está na formação. A formação é a base de tudo. Deixamos de formar. Os campeonatos de formação deixaram de ser competitivos. É só olhar para as três melhores equipas do país, já não têm os jovens que fazem dupla categoria: júnior e sénior. No passado, a pessoa olhava e dizia: este é o futuro da equipa. Temos de trabalhar e resgatar os bons momentos.
Estamos a formar mal?
Creio que não é má formação, mas sim a maneira como estamos a formar os jogadores. Os treinadores só querem ter um número de jogadores seniores, mas não se preocupam com a fase de formação. Já não se vê a aposta real do treinador no atleta. Hoje, já não passam mais tempo com o jogador a fazer trabalho individual.
Há falta de jogadores com elevada qualidade técnica e competitiva?Acredito que não. Temos bons jogadores. Não estamos a saber aproveitar bem os existentes. Temos de arranjar equipas para que esses atletas possam jogar com regularidade a fim de se desenvolverem. Temos muitos talentos e bons jogadores dentro e fora de Angola que devem ser melhor aproveitados.
O que se deve fazer para o resgate da mística do basquetebol nacional?
Temos de voltar a trabalhar muito. O nosso campeonato interno tem de voltar a ser muito competitivo. Isso é que definia o estilo do nosso campeonato. Nos anos anteriores, o basquetebol angolano era muito competitivo e ninguém conseguia prever o campeão; tínhamos sempre três a quatro equipas a lutar pelo ceptro. Essa competitividade tem de regressar. Para se ter uma selecção forte, tem de haver um campeonato forte. O resto é complemento.
O campeonato sénior masculino está com o arranque aos soluços. Quem parte favorito à conquista do ceptro?
Olhando pelas contratações, todos dizem que é o Petro de Luanda. Na minha modesta opinião, se olharmos pelas contratações, o Petro de Luanda é o favorito. É a equipa que reúne actualmente todos os jogadores da selecção nacional. Por isso, é a favorita.
TORNEIO PRÉ-OLÍMPICO
Selecção nacional deve ser renovada
Selecção nacional deve ser renovada
Que avaliação faz da gestão da Federação Angolana de Basquetebol?
Não sei nada sobre a gestão da Federação. Apenas sou atleta e nunca quis saber nada sobre a gestão da Federação Angolana de Basquetebol. As pessoas estão a trabalhar. Agora, se as coisas não estão a correr bem, já não sei a que se deve o fracasso ou a falta de resultados satisfatórios.
Há prémios por receber da Federação Angolana de Basquetebol?
Que eu saiba não. Se houver, talvez não seja da responsabilidade da Federação. Os meus prémios estão todos pagos. Desconheço se há um ou outro atleta com prémio por receber.
A selecção nacional deve ser renovada para o torneio pré-olímpico?
A selecção tem sido renovada. Agora, não sei se já sou considerado como mais velho. A ser assim, também tenho de sair da selecção nacional. O combinado nacional tem sido renovado todos os anos. As pessoas têm de aproveitar os momentos e as oportunidades que lhes são dadas. Alguns jovens, quando entraram para a selecção nacional, lhes são dadas as oportunidades, mas não as aproveitam. Por essa razão, o treinador insiste nos mesmos jogadores. A melhor fase para a renovação da selecção nacional é agora no torneio pré-olímpico.
Há possibilidade de Angola conseguir a qualificação aos Jogos Olímpicos de Tóquio\'2020?
Depende das condições de preparação e dos jogadores a serem convocados. É preciso criar as condições mais cedo e começar a trabalhar no tempo certo.
Estás disponível para o torneio pré-olímpico no próximo ano?
Representei a selecção nacional sempre pela minha família e pelo povo angolano. Se for convocado, vai ser sempre pelo dever de servir à pátria. Agora, se não for convocado, vai ser a minha obrigação apoiar a selecção nacional.
RELAÇÃO INSTITUCIONAL
“Não ataquei ninguém”
Como caracteriza a sua relação com os colegas de selecção?
Falamos todos os dias. A relação é boa, somos colegas e amigos acima de tudo.
O que lhe motivou a fazer o vídeo no hotel e no aeroporto chineses e publicá-los?
O vídeo no hotel foi feito em directo; não gravei nada. Não fui o único a fazê-lo. As pessoas só viram o do meu telefone. Cada jogador fez o seu vídeo e guardou-o para qualquer eventualidade.
Alguns colegas seus se recusaram comentar sobre os vídeos publicados. O gesto reflecte a situação do balneário ou foi a falta de solidariedade?
Nem uma nem outra. Quando chegámos da China, só queríamos ir para a casa. Portanto, não gosto muito de voltar a falar sobre esse assunto para não ficar a ideia de que o Yanick Moreira quer chocar sempre com a Federação Angolana de Basquetebol. Fiz o vídeo e a Federação respondeu. Não sei o que vão decidir. Estou à espera e sereno.
Desde a publicação do vídeo já tiveste algum contacto com a direcção da Federação?
Não. Até o momento, ninguém ligou para mim para abordar esse assunto. Estou à espera que entrem em contacto. Toda gente ouviu a promessa de abertura de um inquérito. Portanto, estou à espera que me chamem. Se acharem motivos para me castigar, vou respeitar e aceitar a decisão com normalidade.
É verdade que, durante o Mundial, ligaste várias vezes ao presidente da FAB a fazer pedidos pessoais?
Tudo que as pessoas fazem, fazem-no movidos com diferentes sentimentos. Se for para os repontar, então não o fizeram de coração aberto. Se existe alguma coisa, tenho a certeza de que as pessoas dentro da FAB vão confirmar. As ligações têm a ver com o material comprado e foi-me devolvido os valores.
Qual é a sua relação com Hélder Cruz "Maneda"?
A minha relação com o presidente da FAB é com o senhor Hélder Cruz "Maneda". Em Angola, confundimos muito as coisas. A pessoa, dentro do seu local de trabalho, deve ser tratado de uma forma e fora dele de outra maneira. Se me encontrar agora com o presidente da FAB, é o senhor Hélder Cruz. Dentro da Federação deve ser tratado como presidente da FAB. Só isso. É meu dever, enquanto atleta da selecção nacional, saudar o presidente da FAB. Fora da Federação, a minha relação é normal. Nunca mais falámos. Já não me lembro da última vez que falámos. É bom deixar claro que não ataquei ninguém e não citei nome de nenhum membro da Federação. Estava a falar de um modo geral. Não tenho problemas com o senhor Hélder Cruz "Maneda".
Como caracteriza as declarações feitas pelo presidente da FAB num programa televisivo por causa do vídeo que colocaste nas redes sociais?
Na qualidade de presidente da FAB tem de limpar a imagem da instituição. Não vi nem ouvi a entrevista. Agora, se acha que tinha todas as condições para a selecção nacional no Mundial da China, parabéns para ele.
O grupo podia fazer mais no Mundial da China?
Sim. Pela qualidade da nossa selecção, podíamos ter feito melhor. Creio que faltou mais competitividade. A selecção tinha de começar cedo a preparação e ter mais jogos com equipas fortes. Não podemos culpar apenas os dirigentes. Nós, os jogadores, também errámos. Temos de dizer e tirar as coisas positivas e deitar fora as negativas. Agora, temos de voltar a trabalhar arduamente para fazer melhor. No nosso balneário, nunca houve ilhas, sempre estivemos focados no nosso objectivo.
CARREIRA DESPORTIVA
“Não adianta voltar a Angola”
Informações não oficiais dizem que trocaste palavrões com Carlos Morais no balneário da selecção na China. Até que ponto isso é verdade?
Somos colegas de selecção, estamos a jogar na mesma equipa e temos de trocar palavras mesmo dentro do balneário.
Essa discussão repercutiu-se nas negociações com o Petro de Luanda?
Quem negocia com equipas ou clubes é o meu agente. Se houve interferências de algum jogador, acredito que não foi o Carlos nem o Leonel Paulo.
Vai ou não jogar na presente época desportiva?
Vou jogar sim está época. Nesse momento, estou a tratar os meus processos, porque tive de trocar o meu passaporte. Estou à espera da emissão do visto. A época começou agora e decidi não assinar com nenhum clube, porque tinha coisas a resolver.
Vai jogar em Angola?
Não posso dizer sim nem não. Quem trata disso é o meu agente. Só ele sabe onde vou jogar. O certo mesmo é que ainda não assinei com nenhum clube.
Quando vai jogar em Angola?
Esta é uma pergunta que as pessoas têm de olhar de frente: o nosso basquetebol está bastante competitivo para atrair todos os jogadores? Temos equipas que vão ajudar no aumento dos níveis competitivos dos jogadores, quando forem chamados para representar a selecção? Não adianta voltar a Angola e jogar próximo das nossas famílias. Será que vou melhorar como jogador?
Qual é o futuro da tua carreira?
Quando o meu passaporte sair com o visto, já terei novidades. Vou anunciar para onde vou jogar. Falta pouco tempo.
Uma palavra para os seus fãs...
Para os meus fãs, o meu muito obrigado pelo carinho. Prometo que tão logo tenha as novidades, vou anunciá-las nas minhas páginas ou darei uma entrevista para esclarecer a minha nova equipa.
Por que razão não assinou com o Petro de Luanda ou 1º de Agosto?
Quem negoceia os meus contratos é o meu agente. Normalmente, não posso intervir nas negociações. Apresenta-me as propostas e escolhemos o melhor projecto. Portanto, ainda não decide nada sobre a minha carreira. Estou a treinar todos os dias para estar em forma desportiva.
A NBA arranca na próxima semana uma palavra de apreço ao Bruno Fernandes...
Que continue a trabalhar duro todos os dias. Não vai ser fácil no princípio, mas estamos aqui para o apoiar e puxar por ele. Sempre que houver os jogos, vamos procurar estar acordados para vê-lo a jogar.
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